quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Carta ao Paulo

Caro Paulo,

Não sei se reparaste mas anda uma roda viva na RTP, tudo porque aquele senhor do Telejornal fez umas declarações sobre as interferências da administração em questões editoriais. Seguem-se as averiguações e investigações e o tal jornalista arrisca-se a levar um processo disciplinar. Na televisão pública, diz o jornal Público, 11 pessoas viram-se confrontadas com a censura da administração.
Amigo, o que me causam especial confusão neste assunto é o efeito que os dizeres provocaram. Por uma ordem de ideias muito simples: onde está a novidade? Não temos nós, caro Paulo, andado a conversar sobre isto ultimamente, a propósito dos dois diários locais, povoados eles próprios de uma conjura politico-religiosa que os faz serem porta-vozes oficiais de um regime?
Se bem te recordas, no nosso tempo, o lápis azul cortou muitas vezes a livre e aguçada opinião de muitos; se bem te recordas, tivemos que fugir os dois para as catacumbas de uma garagem ali para os lados do Hotel Turismo porque os senhores de farda correram atrás de nós, após a colocação de uns cartazes incomodados por usarmos cola que diziam eles tinha propriedades cancerígenas; se bem te recordas, no nosso tempo, os dois jornais já mostram todo o seu esplendor: um só falava de política institucional, o outro trazia para as primeiras páginas as homilias bispais.
Caro Paulo, ontem como hoje vejo demasiada gente preocupada com a liberdade e com a expressão livre de ideias. Ontem como hoje, a m....é a mesma, as moscas é que estão mais cultas e finas. Ontem como hoje, há uns paladinos armados em defensores da liberdade e senhores da sabedoria. Ontem como hoje, há quem anda de lápis atrás da orelha a tirar medidas e a fazer desenhos do que pode e não pode ser dito.
O curioso, caro amigo, é que abrem-se os jornais locais e percebe-se que nada mudou. Tudo está igual e o que não está, está bem pior. Numa vista de olhos pelo Correio do Minho, por exemplo, vê-se uma pobreza de linguagem sem precedentes e a uma representação do "Mundo" tão cor-de-rosa, que se não fossem as noticias assinadas essencialmente por mulheres, achava aquela redacção um bocado pró amaricada.
Caro Paulo, espero boas novas tuas e agora que aderi finalmente às novas tecnologias não tens desculpa para não escreveres. Sobretudo, porque gosto muito de trocar ideias contigo.

Cumprimentos,

Fradique Mendes

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