terça-feira, 6 de novembro de 2007

Onde O Tempo Faz a Cura

Caro Paulo:

Agradeço-te do fundo do coração toda a preocupação que fizeste o favor de manifestar neste período em que os vírus tomaram conta da minha vontade e me inibiram de estar contigo neste nosso convívio internetiano. Recuperado desta batalha bacteriana, volto a partilhar contigo algumas reflexões sobre aquilo que vou lendo na mesa do café situado quase à porta de casa.
Voltando um pouco atrás, começo por te dizer que gostei da edição verde da revista "Visão", em especial, um artigo onde são analisados os efeitos das alterações climatéricas no nosso país. Curioso verificar que quem "beneficia" com o aumento das temperaturas é o todo o Norte do país, região que tem vindo a ser menosprezada pelo poder centralista. Isto é, anda-se a fazer investimentos que correm o risco de não servir para nada. O Norte que ficará com a riqueza do país, lá para 2080, será uma zona terceiro-mundista nessa altura. Uma análise curiosa esta.

Estava eu satisfeito, porque o "Jornal de Notícias" vinha, nestes últimos meses, a contrariar o meu péssimo quando me deparo com a edição de hoje. Se as páginas dedicadas ao Theatro Circo são merecidas e de uma qualidade insuspeita, e que deveriam forrar as paredes dos iluminados editores, se os trabalhos sobre o PIDDAC estão genericamente bem feitos, se os balanços de meio de mandato dos autarcas estão bem conseguidos, a excepção é mesmo o de Braga com uma escrita no mínimo bizarra e irreal (sou contra o uso de dejá-vú como Mesquitismo, Roma Lusitana e afins), hoje a pintura é borrada com uma reportagem sobre mecânicos injustiçados (será que no resto do país não é igual?), uma noticia sobre o desmantelamento do Banco de Portugal em Vila Real (serve para quê) e uma outra sobre a visita do ministro da Economia (se era para vir dizer que é preciso internacionalizar mais valia ficar pelo futuro deserto). Enfim.

O Correio do Minho continua no seu melhor, sobretudo, nas páginas do desporto, autênticos feudos de mau-jornalismo e de jornalismo de mau-gosto. Estou com saudades, caro Paulo, de uns escritos de um senhor dessa secção que usando palavras caras fazia uma literatura de retrete esquecido que foi o puxar do autociclismo. Desculpa a minha acidez mas ainda tenho no corpo resquícios do ataque das bactérias.

O Diário do Minho, que precisa de uma reforma gráfica já, anda mais certinho. Para já, os lunáticos do costume devem andar a tomar os comprimidos. Bem quase todos. Hoje, há um que diz bem de um jornalista da TVI porque acaba os jornais a dizer "Até amanhã, se Deus quiser".

Caro Paulo, até amanhã...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Bons Exemplos

Caro Paulo,

Sigo uma das tuas sugestões, as outras irei respondendo em futuro próximo, e deixo-te a referência a algumas peças jornalísticas feitas recentemente e com qualidade. A começar a entrevista com Paulo Brandão publicada no Diário do Minho de ontem. Depois duas reportagens da revista "Sábado" desta semana: uma sobre "Homens-Bomba" traduzida pela dita revista do Sunday Times (uma visão muito interessante sobre o tema) e outra em que se dá conta do que~seria viver sem produtos chineses (praticamente não se fazia nada). No Jornal de Noticias o destaque vai para a reportagem sobre o Mosteiro de Tibães e para a notícia sobre um acto de racismo em pleno centro da cidade de Braga.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Que achas?

Caro Paulo,

Chegado do fim de semana da minha aldeia natal, as novidades são muitas e frescas. Deixa-me começar pelos cronistas do Diário do Minho. Exceptuando Silva Araújo, possuidor de uma visão iluminada que raramente se encontra na Igreja portuguesa, os senhores opinadores do jornal regional de inspiração católica, foram, infelizmente, escolhidos a dedo. Desde o Postal da Minha Arcada (e o último sobre um repuxo qualquer que deu lugar a 3000 caracteres de texto é um dos ex-libris), passando por uma senhora com ar de costureirinha que exigiu o tratamento compulsivo dos homossexuais e acabando num senhor que de tal filósofo se torna verdadeiramente ridículo, o DM prima por ter verdadeiros espécimes, saídos da caverna platoniana, que acordados para o mundo se deparam com realidades diferentes daquelas que viveram antes de hibernarem. Uma tristeza.

O Correio do Minho premeia-nos, hoje, com um título de primeira página em modo interrogativo!!! Vá lá, enquanto não puseram os três pontos a seguir à interrogação já não foi mal de todo.

Já o JN, caro Paulo, continua a sua brilhante caminhada para a Lanterna dos Afogados. Tal como já te tinha sugerido, numa das cartas, eles hoje fizeram-me o favor e publicaram uma reportagem sobre sex-shops (sem comentários). Sugiro na mesma senda e com o mesmo objectivo (cair rapidamente no precipício) uma reportagem sobre o modo de vida dos homossexuais de Braga (quem sabe se este modo de vida é diferente dos outros existentes pelo país porque em relação às sex-shops e ao contrário do que tenta a "reportagem" dizer é igual em toda a parte) aproveitando para perguntar à costureirinha se sabe quem são os médicos e as empresas farmacêuticas que produzem os medicamentos para a cura!

A minha nora, professora universitária, contou-me uma história que a deixou perplexa: ocorreu, por estes dias, um congresso na Universidade do Minho cujo tema metia família, saúde e doenças. O dito jornal destacou um jornalista para cobrir o congresso falando, inclusive, com uma das responsáveis. A notícia não saiu no dia seguinte. Questionado pela responsável a quem tinha dado a entrevista, o jornalista desculpou-se dizendo que a responsabilidade passa pelos editores do jornal e pedia desculpas (mesmo não tendo obrigação de o fazer, digo eu) pelo sucedido. Não foste isto Braga e eu ia jurar estamos a assistir a uma cena dos Monty Phyton.

Achava eu que este episódio era casual, quando ontem, recebo para almoçar um grande e velho amigo, responsável por uma associação de desenvolvimento rural de um concelho límitrofe. A meio da conversa, vem a terreiro o tema jornais e jornalismo e eu aproveitei para contar-lhe o episódio descrito pela minha nora. O meu espanto foi ao limite quando me relata que o mesmo jornal destacou um jornalista para fazer uma reportagem sobre uns cursos pioneiros de educação para adultos há uns meses e da sua publicação nem Quixote nem Baltasar, népias. O jornalista voltou a refugiar-se no "à espera que os editores decidam pela sua publicação". Fui ao rubro e interrogo-te, meu caro Paulo: Que achas disto? O que leva um jornal a destacar jornalistas para a cobertura de eventos e de reportagens e depois não as publica? Não é isto uma falta de respeito quer para os jornalistas quer, sobretudo, para as instituições e personalidades entrevistadas? E porque é que são os pobres coitados dos jornalistas a dar a cara e não esses "pseudo-editores" (que não tardam nada estão como cronistas do Diário do Minho)?

Ai que já vejo o precipício ali à frente!

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Um caso não exemplar

Caro Paulo,

Queria chamar-te a atenção para um não exemplo de noticia. Mais uma vez recorro ao "Jornal de Noticias" e peço-te desculpa pela insistência mas tirando os dois jornais diários regionais, é o único jornal que me ocupa o relaxamento enquanto tomo o café. Na passada segunda feira é publicada uma noticia, na secção Norte, sobre as declarações de um vereador sobre a extinção de um clube de natação. Bom, a noticia SÓ apresentava as declarações do vereador, ficando a sensação a quem lia que haveria ali um qualquer mistério insondável. Apesar de pequena, a noticía era estranhissima.

Ontem, o "JN" fez questão de me esclarecer: publicou outra noticia, com fotografia incluída, com a posição da direcção do clube. Mais estranho achei. No dia anterior sai uma pequena noticia sem foto, no dia seguinte sai uma grande noticia com foto. Dois pesos e duas medidas? E para quando a assumpção do erro por parte do "JN", sem se refugiar nas espatafúrdias justificações pelas quais o jornal é conhecido? E o que anda escondido nas paredes do diário para que um vereador tinha direito a meia dúzia de linhas e a direcção de um clube ocupe meia página com fotografia? Será que é mais um exemplar dos fretes jornalísticos que o jornal nos vem presenteando? (Basta ver as páginas dedicadas ultimamente a Luíz Filipe Menezes e compará-las com as dadas a Luís Marques Mendes ou, por exemplo, a Rui Rio).

Temo que o jornal comece a não ter emenda. Infelizmente...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Da RTP ao JN

Caro Paulo,

Deixa-me, a jeito de intróito, dizer-te que as minhas incipientes andanças nas novas tecnologias, obrigam-me, para já, a pedir ajuda ao meu filho mais velho e ao meu neto, na colocação "on-line" (como agora soi dizer-se na linguagem juvenil actual) destas epístolas que te vou escrevendo. Estou por isso dependente deles.

Agradeço-te a chamada de atenção para o editorial da revista "Sábado" onde é abordado do caso que opõe o jornalista José Rodrigues dos Santos e a RTP. Sabendo que há muita coisa em jogo nesta aguerrida troca de palavras, há um argumento que não aceito: o da obrigatoriedade do dever de lealdade de um funcionário perante a empresa que lhe paga o salário, se esse dever colocar em causa valores inalienáveis e supremos da condição humana. Esta é uma das questões que me parece transparecer neste caso, e por isso, fico do lado do jornalista.

Histórico porque muito pouco habitual é a retratacção pública feita na última edição do jornal "Expresso" a propósito de uma notícia que veio agora provar-se não ser totalmente verdadeira. O semanário reconheceu-o de uma forma digna, humilde, explicando sem muitas desculpas, a análise que esteve na base da feitura da notícia e que se veio a revelar falsa. Todos os jornais fossem assim...

Agora queria falar-te, mais uma vez, do jornal que me preenche a leitura matinal no café da minha rua. O "Jornal de Notícias" continua a sua senda rumo ao precipício. Durante o fim-de-semana publicou mais algumas pérolas, excelentes exemplos de não noticías. Uma delas falava de pedreiras ilegais em Braga. Para além de não ter nada de novo, a noticia apresenta apenas uma versão da história de um tal Celso Ferreira, do partido "Os Verdes". O que o senhor não diz, nem a jornalista se preocupou em investigar e, para isso, bastava fazer uma pesquisa e descobrir declarações de vários agentes políticos ou ambientais que reconhecem a existência de uma lacuna legal que impede a actuação das entidades fiscalizadoras, isto é, se é verdade que as pedreiras estão ilegais, também é verdade que não há legislação que obrigue os responsáveis a terem as suas empresas dentro da lei.

Uma outra notícia refere-se ao barulho proveniente do kartódromo de Braga e que invade várias freguesias límitrofes da estrutura desportiva. O que me espantou é que a notícia não tráz nada de novo em relação a uma outra anteriormente publicada aquando de uma conferência de imprensa promovida pelas juntas das ditas freguesias. Uma notícia sem nada de novo, merece ser publicada, meu caro Paulo?

Já em queda vertiginosa está o jornal "Correio do Minho". O embate com o fundo do poço está iminente. Espero que o choque não seja irreversível e nem muito traumatizante. Se assim for, temo bem, meu caro Paulo, que tenhamos em Braga um jornal exclusivamente para forrar vidros e paredes.

Cumprimentos,

Fradique Mendes

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Carta ao Paulo

Caro Paulo,

Não sei se reparaste mas anda uma roda viva na RTP, tudo porque aquele senhor do Telejornal fez umas declarações sobre as interferências da administração em questões editoriais. Seguem-se as averiguações e investigações e o tal jornalista arrisca-se a levar um processo disciplinar. Na televisão pública, diz o jornal Público, 11 pessoas viram-se confrontadas com a censura da administração.
Amigo, o que me causam especial confusão neste assunto é o efeito que os dizeres provocaram. Por uma ordem de ideias muito simples: onde está a novidade? Não temos nós, caro Paulo, andado a conversar sobre isto ultimamente, a propósito dos dois diários locais, povoados eles próprios de uma conjura politico-religiosa que os faz serem porta-vozes oficiais de um regime?
Se bem te recordas, no nosso tempo, o lápis azul cortou muitas vezes a livre e aguçada opinião de muitos; se bem te recordas, tivemos que fugir os dois para as catacumbas de uma garagem ali para os lados do Hotel Turismo porque os senhores de farda correram atrás de nós, após a colocação de uns cartazes incomodados por usarmos cola que diziam eles tinha propriedades cancerígenas; se bem te recordas, no nosso tempo, os dois jornais já mostram todo o seu esplendor: um só falava de política institucional, o outro trazia para as primeiras páginas as homilias bispais.
Caro Paulo, ontem como hoje vejo demasiada gente preocupada com a liberdade e com a expressão livre de ideias. Ontem como hoje, a m....é a mesma, as moscas é que estão mais cultas e finas. Ontem como hoje, há uns paladinos armados em defensores da liberdade e senhores da sabedoria. Ontem como hoje, há quem anda de lápis atrás da orelha a tirar medidas e a fazer desenhos do que pode e não pode ser dito.
O curioso, caro amigo, é que abrem-se os jornais locais e percebe-se que nada mudou. Tudo está igual e o que não está, está bem pior. Numa vista de olhos pelo Correio do Minho, por exemplo, vê-se uma pobreza de linguagem sem precedentes e a uma representação do "Mundo" tão cor-de-rosa, que se não fossem as noticias assinadas essencialmente por mulheres, achava aquela redacção um bocado pró amaricada.
Caro Paulo, espero boas novas tuas e agora que aderi finalmente às novas tecnologias não tens desculpa para não escreveres. Sobretudo, porque gosto muito de trocar ideias contigo.

Cumprimentos,

Fradique Mendes